quarta-feira, 26 de outubro de 2011

VOCÊ SABE O QUE É CARTOGRAFIA?

Adriana Leocadio
Aposto que muito ao ler esse texto deve achar de imediato que seja relativo a assuntos místicos. Na realidade comecei a me aprofunda nesse tema depois de conhecer um casal extremamente guerreiro (A.P.T e O.T) que declarou o quanto o exame de cartografia está relacionado na saúde da gestante. Utilizou-se a cartografia como método para mapear a trajetória do cuidado à gestante no serviço da atenção básica. Os achados da cartografia foram descritos, e revelaram lacunas no serviço do pré-natal, tais como o número reduzido da realização do exame da citologia oncótica e o déficit de atividades educativas. Este fato reforça a importância do vínculo e do diálogo entre profissionais e gestantes para a adesão e sucesso do pré-natal.
A gestação é um período no qual a mulher necessita de cuidados especiais pelo fato de vivenciar experiências singulares decorrentes de modificações fisiológicas e psicossociais. A equipe de saúde deve, então, acolher a gestante e desenvolver cuidados com o objetivo de prevenir riscos e promover uma gravidez saudável. A garantia do cuidado integral está fundamentada nas políticas de saúde da mulher e implementadas nas redes assistenciais de saúde. Na atenção pré-natal, o serviço de saúde deve fornecer as bases do cuidado, mediante o atendimento articulado, humanizado e com resolubilidade das ações. Sabe-se que o cuidado humanizado no pré-natal é o primeiro passo para um nascimento saudável, diminuição da morbimortalidade materna e fetal, aquisição de autonomia e vivência segura no ciclo gravídico. O cuidado na saúde da gestante encontra-se pautado nas queixas físicas e caracterizado pela fragmentação de suas ações, sendo insuficiente para promover a saúde da gestante. Como resultado, a qualidade assistencial torna-se comprometida, possibilitando riscos de intercorrências no ciclo gravídico-puerperal.
O método cartográfico propicia adentrar o complexo mundo da produção do cuidado em saúde, captando os ruídos dialógicos, a produção de afetos e as tecnologias de atenção à gestante. Por conseguinte, a cartografia nos revela os processos de produção de subjetividades e dispositivos coletivos do cuidado.
Para podermos adquirir informações sobre doenças que um indivíduo possa ter contraído ou estar desenvolvendo, ou ainda para obtermos informações sobre funções orgânicas, realizamos análises sangüíneas, ou simplesmente “exames de sangue”, sendo que outras análises também poderão ser realizadas em outros materiais, como por exemplo, na urina, no líquor, nas secreções, nas fezes etc. A cientificidade do método cartográfico de estudo dos estressores se baseia, assim, na fertilização cruzada proporcionada pela identificação dos pontos de tangenciamento e textualidade das diversas entradas de dados e referências obtidos em diferentes movimentos e fontes. Não é um simples método de registro de indicadores. Trata-se, fundamentalmente, de um esforço na direção de sua capacidade explicativa global, em que contribuições diversas desvelam-se umas às outras, complementando a re-colocação da realidade vivida.
Nessa espécie de "tecelagem etnográfica" busca-se um desenho sem retoques de um todo vivido, mas nem sempre visível para seus sujeitos. Não se busca uma síntese, tampouco alguma espécie de sincretismo, mas a expressividade proporcionada pelas inter-relações.
Para tanto, as fronteiras entre as disciplinas são flexibilizadas, oferecendo-as às mediações necessárias ao cartografar. É com o apoio de bases ergológicas, psicanalíticas, sociológicas, antropológicas, psicológicas e outras que se torna possível a pretensão de mapear. O objetivo, assim, não é dizer às organizações e instituições aquilo que elas ocultam, mas aquilo que presentificam na vida laboral.
A “Cartografia” contribui para uma experiência peculiar, de re-descoberta do já sabido a favor de muitas superações desejadas. Um dos maiores desafios na aplicação desse método é a falta de uniformidade na forma de apresentação de dados pré-existentes, coletados com propósitos diversos. Ao buscar reuni-los e fazê-los dialogar, deparamo-nos com indicadores expressos por critérios e em formatos diferentes, cuja interlocução nem sempre é fácil. Há um esforço e um tempo necessários ao ajustamento preliminar das informações, considerando, entretanto, que a realidade também é dinâmica e a apresentação dos dados não pode ter maior importância que a fidelidade com aquilo que expressam.

Além disso, também constamos com a falta de interesse na implantação do exame cartografia nas maternidades. A realização de exame pode prevenir o futuro da criança que acaba de vir ao Mundo, dando condição especialmente emocional aos pais.
Nada impede aos futuros papais solicitem a pequena coleta de sangue para realização do exame na ocasião do nascimento.
Faça valer seus direitos!

Adriana Leocadio – Especialista em Direito e Saúde, Bacharel em Direito, Membro da Organização Mundial da Saúde – OMS e Presidente da ONG Portal Saúde e do Blog: www.saudeejustica.blogspot.com